A crise hídrica está aí. Em junho, os reservatórios fecharam o mês com 26,6% de sua capacidade máxima. Além disso, estamos vivendo o pior nível de chuvas em 91 anos. Basicamente, um nível historicamente baixo, semelhante ao que tivemos em 2001. Nesse ano, os reservatórios fecharam o mês com 26,8% e, sob o governo do FHC, tivemos um racionamento de energia.
Para nossa sorte, há uma diferença fundamental entre 2001 e nossa situação de agora. De lá pra cá, houve uma mudança na porcentagem da energia obtida através das usinas hidrelétricas. Naquela época, estas representavam 85% da energia do país. Hoje, com a chegada de novas formas de energia, representa 60%.
Isso, é claro, não torna a crise menos real. Apenas significa que o sistema fica um pouco menos sobrecarregado quando atravessamos uma seca.
Inclusive, o episódio atual obriga o país a encarar duas possibilidades de contenção de danos:
- Racionamento;
- Aumento da conta da energia.
Este último, aliás, vem para desestimular o consumo. Ambas as medidas, como você já deve saber, são extremamente impopulares. Desta vez, apesar disso, o aumento foi a decisão das agências reguladoras.
No mês de julho, passou a vigorar a bandeira vermelha 2 da tarifa da conta de energia. Antes, a taxa era de R$6,24 por 100kWh. Agora, é de R$9,49 reais: um aumento de 52%. Esta alteração, por consequência, fez os economistas subirem projeções de IPCA para este ano.
O que é o IPCA?
O IPCA significa Índice de Preços ao Consumidor Amplo. Em resumo, é um dos índices de inflação mais importantes do Brasil. Ele mede a variação dos preços de produtos e serviços consumidos pelas famílias brasileiras. Aliás, o indicador tem como objetivo abranger 90% das pessoas que vivem nas áreas urbanas do país.
Quais as consequências da alta do IPCA?
O centro da meta do IPCA é de 3,75%. Entretanto, hoje, a expectativa de inflação é de 6% – um valor bem mais alto. Além disso, é acima, ainda, do teto da banda de tolerância, que é de 5,25%.
E não é só isso. O choque tarifário em cima dos choques de oferta que já vinham causando impacto no IPCA trouxe outra preocupação. Esta, por sua vez, é o receio de que o BC não consiga cumprir a meta de inflação de 2021.
Como isso afeta os investimentos de renda fixa?
Normalmente, quando os juros sobem, a renda fixa fica mais atrativa. Neste cenário de alta de juros causado, entre outros fatores, pela crise hídrica, os títulos pós-fixados tendem a ser melhores opções para investidores. Afinal, estes estão atrelados à variação de um dia das taxas de juros básicas. Assim, estes ativos são corrigidos pela inflação e protegem o investidor de altas nos preços do consumidor.
Para os ativos pré-fixados, não há nenhum indexador na jogada. Por isso, são mais atraentes quando estamos em um cenário de baixa de juros. Contudo, a rentabilidade é maior do que para as opções pós-fixadas, além de serem mais previsíveis.
É importante lembrar, também, que esse impacto da alta do IPCA é temporário. Isso porque ele geralmente sobe em época de pouca chuva, mas cai após a normalização do clima.
E quanto às ações?
Aqui, o cenário é menos estável, é claro. Normalmente, as ações do setor de energia são consideradas mais resilientes. Entretanto, esta crise pode, sim, afetar essas empresas. Especialmente aquelas do segmento de geração de energia, e que possuem maior participação hídrica no portfólio.
Já as empresas de distribuição podem ser afetadas em caso de racionamento. Este, por enquanto, não é um cenário que estamos inseridos. Mesmo assim, vale a pena ficar de olho nos próximos capítulos. Isso acontece pois, com o racionamento, os volumes de energia vendidos acabam por ser reduzidos.
Por fim, temos o setor de transmissão. Este, por sua vez, deve ser o menos afetado. Afinal, tem suas receitas totalmente reguladas. Em outras palavras, suas tarifas e volumes não estão vinculados à demanda de energia.
Fique de olho nas notícias
Até aqui, você teve uma noção ampla de como a crise hídrica pode afetar os seus investimentos. Mesmo assim, é bastante importante que você permaneça a par dos acontecimentos. Afinal, a situação pode mudar e, com ela, mudar também suas decisões sobre sua carteira de investimentos.